sexta-feira, 8 de abril de 2011

Em defesa do cerrado

 
Confesso que não sei se o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, se retratou da bobagem que falou recentemente sobre a expansão da fronteira agrícola nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e oeste da Bahia: “Lá não tem nada, só cerrado”.

Na minha singela opinião, um comentário deste saído da boca de um ministro da Agricultura é atestado de despreparo para a função. O cerrado é um bioma dos mais importantes do mundo. Segundo os entendidos, o cerrado possui mais biodiversidades que a floresta Amazônica.

O cerrado é riquíssimo de frutos, como o pequi, araticum, pitomba, cagaita, coco macaúba, mangaba, buriti, jatobá, araçá, umbu, jenipapo, murici, gabiroba, tarumã, baru, marmelada de cachorro, seringuela, entre outros. Frutos esses que estão sendo difundidos cada vez mais, e por isto obtêm valor econômico e servem de ganha-pão para uma massa grande de famílias sertanejas.

O cerrado brasileiro, onde a cidade de Montes Claros está plantada, é, pode-se dizer, quase que único, pois existe um pouco na Venezuela e outro pouco menor ainda na África. Trata-se de um bioma sensível, frágil, e as notícias que nos chegam dão conta de que o país já perdeu mais da metade do cerrado para agricultura e pecuária de corte.

O cerrado ocupa 24% do território nacional, informa a especialista em Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável pelo CDS/UnB, jornalista Renata Camargo. É responsável por 5% de toda a biodiversidade mundial. É berço de nascentes dos principais rios das bacias da Amazônia, do Prata e do São Francisco.
Isto só já bastaria para levar o ministro a se retratar e auxiliar na execução de uma política de ocupação racional do cerrado, com foco na preservação. Principalmente diante da preocupação crescente em relação à escassez de água.

A ocupação urbana e a expansão ostensiva das fronteiras agropecuárias se tornaram um perigo constante para o Cerrado. Dados da Conservation International Brasil (CI-Brasil) dão conta de que pouco mais de 2 milhões de km² de vegetação original do cerrado restam no Brasil, o correspondente a 20%.
Os pesquisadores concluem que se a destruição do bioma seguir nesse ritmo acelerado, até 2030, o cerrado corre o risco de desaparecer. A cada minuto, quase três campos de futebol são desmatados no cerrado, segundo a CI-Brasil.

Aqui, com os meus botões: nós, montesclarenses, já tínhamos de estar nas ruas em passeata na defesa do cerrado. Principalmente agora que uma parcela da população ganhou experiência em matéria de passeatas ao sair às ruas protestando contra a administração do prefeito Luiz Tadeu Leite.

É preciso haver uma mobilização e reação popular também para barrar a destruição do Cerrado. O Norte de Minas será drasticamente atingido porque, com o fim desse bioma desaparecerão as veredas – potencialmente, as veredas são futuros rios – que alimentam o Rio São Francisco.

A frase infeliz do ministro é sinal de que essa política de expansão devastadora de um dos biomas mais importantes do mundo é, como se diz por aqui, “de caso pensado”. Recentemente, ele só repetiu o que ouve dizer que é para deixar fazer. As conseqüências dessa política, que só enxerga os cifrões, não são computadas. O mal que isto pode fazer às gerações atuais e as que virão é sem tamanho.
Como bem chama a atenção a jornalista Renata Camargos, “o cerrado precisa deixar de ser tratado como moeda de troca, em que se propõe a preservação da Amazônia, em troca da permissão para abrir novas fronteiras no cerrado. Não há mais como condicionar as decisões políticas com base nesse pensamento que mais deriva do século XIX”.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou um dado capaz de alarmar qualquer pessoa dotada de siso: “Quase metade da área original de cerrado não mais existe; mais de 986 mil km² dessa vegetação (48,37%) foram desmatados até 2008”.

Vai chegar a hora, e essa hora já chegou, que os cidadãos devem estar conscientes do risco que cada um e todos juntos corremos. Se não encontrarmos um meio de vivermos em harmonia com o planeta, em tempo muito curto, a Terra estará sem ninguém.
  

Alberto Sena
Escritor

Fonte: www.onorte.net/

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